sábado, 30 de abril de 2011

De turistas á militantes: uma metamorfose necessária.

 Vivência numa Comunidade Ribeirinha no ENECS 2010 em Bélem do PA. 
Foto: Fernanda Maria Caldeira.

Olá amigos, está chegando a hora e a C.O. (Comissão Organizadora) do ENECS BH 2011 não para de trabalhar. 
Semana passada fomos em peso ao ERECS SE, e participamos ativamente de um momento muito importante para o Movimento Estudantil de Ciências Sociais: depois de muitos anos, voltamos a ter nosso encontro regional. Foi muito bom, apesar de terem poucas escolas presentes (e sendo que o Sudeste é a região com maior número de escolas de ciências sociais). Os poucos estavam bastante motivados como sempre e vimos nascer um movimento muito legal de renovação e reorganização (batida essa palavrinha, né?) do MECS regional. Sei que alguns membros da C.O. farão avaliações diferentes sobre aquele momento, mas pra mim, Antony, foi muito bom o que fizemos ali. Debatemos alguns temas importantes, e apesar de todos os probleminhas na organização, (salvo todos os esforços da C.O. do encontro, que tem todos os méritos simplesmente por proporcionar aquele momento) conseguimos encaminhar algumas medidas e escolher a próxima escola sede do próximo ERECS SE ( A Rural do RJ, UFRRJ). Isso já nos garante alguma coisa, ou seja, temos um chão para nos apoiarmos e poder avançar.
Mas nesse post em especifico, não gostaria de me ater a isso. 

Quero falar sobre o Turismo nos encontros de movimento estudantil. Em primeiro lugar, eu não sou contra. Isso pode parecer polemico, mas de fato, quando fui pro meu primeiro ENECS, em Salvador, em 2008, eu nada sabia sobre o Movimento Estudantil e tenho de confessar: fui pela cidade. Na plenária final desse ERECS Sudeste, isso ficou muito claro, pois no balanço final que muitos fizeram, apesar da reclamação de todos pelo esvaziamento do espaço por conta da "turistagem" da galera, muitos confessaram que em algum momento foram para o encontro para fazer turismo mesmo. As vezes, não estamos bem, e pelo preço da viagem, pela companhia, por ser férias, tudo que queremos é exatamente turistar e o Encontro sempre deve ter sido visto como uma boa oportunidade de matar essa vontade por alguns. Bem, eu compreendo.
Mas o ENECS é bem mais do que isso.
As Vivências, esse espaço novo que habita a metodologia dos últimos ENECS, não são experiências de turismo politizado. São uma oportunidade de viver uma realidade e um contexto que não são os seus, e isso pode alargar seu campo de visão. Temos pensado nelas dessa forma, e isso pode decepcionar alguns, alegrar outros, depende, entre outras coisas, da sua motivação para vir ao encontro.
Em Salvador, em 2008, eu compreendi isso. Fui tomado por uma atmosfera que simplesmente me arrebatou completamente. A ponto de eu voltar inteiramente modificado, querer me implicar nos assuntos do Diretório Acadêmico e outras coisas mais, e hoje eu digo, aquele ENECS mudou completamente meu jeito de fazer ciências sociais.
Quem der essa chance ao ENECS também poderá se convencer da importância do que estamos fazendo, e se for tocado por isso, certamente se envolverá. O movimento estudantil é responsável por grandes conquistas políticas e sociais no nosso pais, simplesmente por seu potencial critico e mobilizador. Ao se envolver com essa luta e o debate dos temas que nos dizem respeito, diretamente, compreendemos a grandeza do que fazemos e da nossa responsabilidade para com a sociedade. Ao me ver cercado de pares, comprometidos, de diferentes contextos e realidades, com diferentes visões e histórias, mas imbuídos do mesmo espírito de concórdia e transformação, algo em você se converte. Pelo menos para algumas pessoas tem sido assim...
Minha mensagem é essa: venha conhecer BH, mas deixe que a gente te apresente um algo mais, que não vai ficar aqui quando você for embora. Esse algo mais vai de presente, e pode mudar seu jeito de fazer ciências sociais.

Por Antony Diniz

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Prorrogação do prazo para envio de artigos


A Comissão Organizadora do XXVI Encontro Nacional de Estudantes de Ciências Sociais anuncia a prorrogação do prazo de submissão de artigos. Sendo assim, o prazo final para o envio desses artigos passa do dia 2 para 29 de Maio de 2011, dando um acréscimo de mais 27 dias para os estudantes interessados se organizarem melhor.

Mesmo estando incluso posteriormente nas normas, lembramos que é necessário, para a inscrição, o envio do Formulário de Inscrição contendo nome, instituição, curso e período, sendo que seu artigo deve se encaixar em um dos oito temas propostos: Expressões culturais no Movimento Estudantil; Sociologia no Ensino Médio; Formação do Cientista Social – Teoria e Prática; Movimentos Sociais; Opressões; Políticas Educacionais, Atuação do Cientista Social e Juventude e Criminalização. Lembrando que este mesmo formulário deve conter um resumo do seu artigo de até 250 palavras. E outro arquivo separado, deve conter seu trabalho completo, sem qualquer identificação pessoal contida. Ambos os arquivos devem ser enviados no formato PDF para o email academicoenecs2011@gmail.com .

Assim que o seu artigo for recebido, enviaremos um email de notificação, que não é instantâneo. Todos os artigos recebidos serão encaminhados a pareceristas especializados na área para fazerem a avaliação necessária. O resultado será divulgado via email e quando for o caso, em todas nossas mídias sociais.

Para fazer a submissão do seu artigo, clique aqui.

A CO ENECS deseja um bom trabalho a todos.

terça-feira, 26 de abril de 2011

III Encontro dos Movimentos Sociais - Por um projeto popular para o Brasil!


Minas não quer CHOQUE, quer TERRA, TRABALHO e EDUCAÇÃO!
 
Essa é a palavra de ordem dos Movimentos Sociais que denunciam o projeto político do governo de Minas, que privilegia o lucro das grandes empresas e reprime os/as trabalhadores/as que exigem seus direitos básicos, como moradia, melhores condições de trabalho e ensino público de qualidade.
Nesse sentido, os Movimentos Sociais de Minas Gerais, unidos pelo desejo de mudança da sociedade, convidam todo o povo mineiro a participar do 3º Encontro dos Movimentos Sociais de Minas Gerais: por um Projeto Popular para o Brasil, que acontecerá em Belo Horizonte, entre dias 30 de abril e 02 de maio de 2011.
Entre as principais propostas do Encontro, destacam-se as seguintes reivindicações:
1)  Redução da Jornada de Trabalho de 44 para 40 horas, sem redução de salário.
2)  Implantação do Piso Salarial estadual.
3)  Por uma política de moradia popular e contra os despejos arbitrários anunciados pela Prefeitura de Belo Horizonte.
4)  Educação infantil ampla e gratuita.
5)  Por uma política de Reforma Agrária efetiva.
6)  Pela redução das tarifas públicas, em especial, as tarifas de energia, gás, água e transporte público.
7)  Pela aplicação da política do meio-passe para todos os estudantes.
8)  Contra o atual modelo de mineração adotado pelo estado, que favorece o lucro das empresas internacionais e gera grandes impactos ambientais.
9)  Pelo fim da ROTAM e contra a política de segurança pública que criminaliza os pobres. 

Mais informações no Blog do Encontro: http://encontro.debh.com.br/
By Antony Diniz
PS: Não sou autor do texto, só tô divulgando!

sábado, 23 de abril de 2011

Caderno de Apresentação do ENECS

Caros amig@s,

A fim de ajudar a preparação das escolas para o ENECS, a CO do XXVI ENECS, em conjunto com o Movimento Estudantil de Ciências Sociais(MECS), fizeram um Caderno de Apresentação de ENECS - CAE.
O CAE traz uma apresentação dos instrumentos atuais do MECS, uma pequena análise de conjuntura, a metodologia do Encontro Nacional e as temáticas que o ENECS vai tratar. Com isto esperamos que as escolas possam se preparar, fazendo pré-enecs, para que possamos acumular em nossas pautas e nossas lutas.


HOUVE UMA ERRATA COM A PÁGINA 15 DO CAE (A PROGRAMAÇÃO). O CAE CORRIGIDO ESTARÁ DISPONÍVEL EM BREVE. PEDIMOS DESCULPAS PELO TRANSTORNO.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

ERECS

A C.O. do ENECS está de mala pronta pro ERECS-SE e também deseja um ótimo encontro para o Nordeste!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Diamantes de Minas

OS DIAMANTES DE MINAS



Minas pra mim é o chão de ver revendo; de curtir comendo suas comidas coloridas de urucum; de procurar no mercado queijo do Serro, que não tem mais. Só vendem imitações e uma coalhada dura do gosto dos cariocas. Minas é meu lugar de ver as mineiras com seu erotismo disfarçado mas veemente.
De descer buracos fundos como o de Morro Velho; de subir morrarias abruptas como as que cercavam Belo Horizonte e os japoneses comeram. Minas, para mim, é lugar de procurar o riozinho Tripuí, onde um negro antigo descobriu as primeiras pepitas de ouro preto. De passagem dá para ver Ouro Preto, Mariana, Congonhas e outras criações que os mulatos mineiros obraram para nos embasbacar.
Mas Minas é também terra de me entristecer muito demais, vendo minha pátria verde ficar careca porque a canalha derruba todo o pé de pau para fazer carvão. É sofrer solidário a penúria do povão mineiro do rio São Franciscão, cheio de surubim e piaba, atravessando desertos antiquíssimos. Agora os querem molhar para plantar melão e uva. Minas é a praça da Liberdade, onde eu flertava com as mocinhas em flor, antes de fugir para São Paulo. Lá pusemos uma placa para o governador: “É proibido comer grama”. Minas é
Barbacena, onde eu tinha uma tia louca muito engraçada, que morreu. Agora a cidade só cuida do plantio de rosas alemãs. Escandalosas. Minas, apesar de tudo, ainda há, oh Carlos. Antes de morrer, quero ver Diamantina, andar nos seus pedrais colhendo flores secas que só lá tem. E Montes Claros, que no meu tempo tinha 3.000 moradores e agora tem 300 mil – a coitadinha afogou-se em gente. Felizmente ainda tem a carne-de-sol de dois pêlos, que meu irmão me manda, meio falsificada. E Teófilo Otoni também, com suas duas belas preguiças, espreguiçando na praça Tiradentes, e o povo espreguiçando ao redor, buscando pedraria de enganar baiano.
Minas é Belo Horizonte, cidade engenheiril, feita a teodolito, com suas retas de deor do princípio ao fim, desconhecendo a morraria. Minas é sobretudo meu chão que me acende de furor pátrio-mineiro, lembrando Filipe e Tiradentes. Um dilacerado por quatro bestas; o outro enforcado e esquartejado. Morro de inveja deles. Quisera ser mártir.
O que me exalta mesmo é o Aleijadinho, autor das coisas mais bonitas que Minas viu. Inclusive a cabeça de Isaías, o da boca queimada pela palavra de Deus. Nunca provei nem brasas dessa verdade. Queria mesmo era escrever um livro mostrando que Aleijadinho nunca foi aleijado coisíssima nenhuma.Era
um homão bonito e namorador.
Coisas todas, como você vê, de recordar, rever e curtir, não de escrever sobre.
Darcy Ribeiro - Antropólogo e Escritor

Postado por Antony Diniz

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Dica de BH.

Realizado desde 2007, o “Duelo de MCs” ocupa semanalmente o Viaduto Santa Tereza, (no centro de BH), com o melhor das manifestações artísticas do Hip Hop.

http://www.duelodemcs.blogspot.com/

Postado por Antony Diniz - PUC MG

terça-feira, 12 de abril de 2011

Estudantes gays sofrem agressão em calourada da UFMG

Na madrugada do dia 2 de abril, alunos veteranos do curso de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) promoveram uma festa para receber os colegas ingressantes. A tradicional calourada já contava com mais de uma centena de pessoas quando um casal de gays foi alvo de tapas e chutes e um casal de lésbicas sofreu agressões verbais. 

Segundo relatos, a festa era frequentada por alunos de diversos cursos e por casais de orientações sexuais diferentes, e não havia precedentes de manifestações violentas no evento. A abordagem repentina de um homem desconhecido da comunidade estudantil causou estranhamento nos alunos, já que ele, segundo informam os estudantes, demonstrava um comportamento homofóbico.
O primeiro a ser abordado pelo homem foi um casal de meninos que trocava beijos na festa. Um deles, estudante de ciências sociais, foi agredido com um tapa no rosto. O outro foi chutado. O casal contou que o agressor chegou separando os dois e dizendo que aquilo era “coisa de viado” e que ele não aguentava esse tipo de coisa. O desconhecido foi embora reclamando, e nenhum dos dois agredidos reagiu.
As vítimas relataram que ainda sofreram ataques do agressor na saída da festa, quando passaram em frente ao prédio da Faculdade de Filosofia e Ciências Humana (Fafich). Ele teria dado outro tapa em uma das vítimas e estaria acompanhado por várias pessoas. Os alunos declararam que não reagiram em momento nenhum por causa do choque.
A Assembleia Nacional dos Estudantes (Anel) levará uma carta-manifesto assinada por vários centros acadêmicos para a reitoria. Em março de 2009, um aluno de Engenharia foi acusado de agredir um colega gay, do curso de Artes Visuais, na moradia estudantil da UFMG. Ele foi obrigado a abandonar o alojamento.


terça-feira, 5 de abril de 2011

INSTRUÇÕES PARA SUBMISSÃO DE TRABALHOS

1) Para fazer sua inscrição e necessário baixar a ficha de inscrição (clique aqui).
2) Este arquivo é sua ficha de inscrição e deverá ser anexada ao email em um arquivo separado do trabalho.
3) Os trabalhos e as propostas de oficinas e mini-cursos devem ser enviadas em formato PDF de acordo com as regras contidas neste arquivo (clique aqui)
4) O artigo NÃO deve conter seu nome, caso isso aconteça ele poderá ser desclassificado.
5) Para inscrever mini-cursos e oficinas NÃO é necessário enviar ficha de inscrição em arquivo separado, devem ser seguidas as regras específicas.
6) PRAZO MÁXIMO para envio de propostas para os mini-cursos, oficinas e trabalhos: 02/05/2011 29/05/2011. Para o email: academicoenecs2011@gmail.com


*Errata: o tema "Juventude e Criminalização" foi devidamente adicionado ao Formulário de Inscrição. Pedimos desculpas pelo erro.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A importância da organização das regionais no XXVI ENECS

A Comissão Organizadora do XXVI ENECS acredita que o atual modelo do encontro é insuficiente para dar corpo e articulação ao Movimento Estudantil de Ciências Sociais(MECS). Por isso, alteramos muito de sua metodologia.

As grandes alterações na metodologia deliberativa do ENECS já foram apresentadas no CONECS deste ano, que ocorreu em janeiro na UFRRJ. Ainda assim é preciso explicá-las aos estudantes em geral; para tal foi planejado o I Caderno de Apresentação do ENECS – CAE. Este CAE foi organizado pela CO com ajuda do MECS; seu conteúdo já está disponível nos e-mails da lista CONECS(conecs@googlegroups.com), para que cada escola crie seu próprio calendário de preparação. Além disso, em breve lançaremos o CAE da CO, com a diagramação com o tema da arte deste XXVI ENECS.

O importante a se dizer é que o CAE é uma ferramenta que vem para ajudar o MECS a se preparar para o Encontro Nacional. É uma ferramenta que vem de um contexto e de uma necessidade concreta do MECS. Com tamanhas alterações da metodologia do ENECS, sem uma preparação coletiva anterior ao Encontro este simplesmente perde todo seu potencial de organização e articulação da coletividade dos estudantes de Ciências Sociais. Além da questão metodológica – que está materializada sobre a forma deliberativa do Encontro –, a importância da preparação para o ENECS recaí sobre a formação de uma nova cultura política para as Ciências Sociais; uma cultura política baseada no diálogo, no amadurecimento e na construção COLETIVA.

Muito já foi dito sobre a importância de as regionais (Norte, Nordeste, Sul, Centro-Oeste e Sudeste) se articularem. Já foi até mesmo colocado que estes espaços de articulação das regionais são anteriores e mais importantes que os espaços de articulação e construção do MECS Nacional. Nós da CO desconfiamos desse jogo binário em que é posto que ou se faz o MECS nacionalmente, ou se o faz regionalmente. Acreditamos que, em verdade, ambos são complementares e só fazem sentido se concretizados juntos e dentro das universidades – ou seja, em contato permanente e orgânico com aqueles que “representa”. Nesse sentido estamos nos propondo a fortalecer a organicidade do MECS Nacional e, para tal, precisamos que os Encontros Regionais de Estudantes de Ciências Sociais atinjam dois objetivos. O primeiro, dar coesão e identidade ao movimento estudantil de Ciências Sociais de cada região, identificando quais são suas pautas prioritárias e as formas com que melhor conseguem lidar com elas. O segundo é dar continuidade à discussão da Articulação Nacional dos Estudantes de Ciências Sociais. Desse modo facilitaremos o andamento do ENECS bem como permitiremos que o MECS acumule sobre sua organização.

Entendendo que a construção da identidade e da coesão não se dá de uma hora para outra, e também que o MECS não pode ser construído em “espetáculos anuais”(os nossos encontros), temos alguns espaços dentro da programação do ENECS para que as regionais consigam se pensar. Um desses espaços é logo após a Plenária Final e tem o objetivo de encaminhar as formas com que cada regional irá efetivar as deliberações do XXVI ENECS. Outro espaço, mais contínuo e lúdico, tem a ver com as expressões culturais típicas de cada região. Cada regional terá que fazer uma apresentação criativa, algo que os represente, os una entre si e seja, ao mesmo tempo, um diferencial da regional. A intenção, além do lúdico e poético que esta ação carrega, é forjar em cada regional uma identidade de grupo, um sentimento de pertença e um fortalecimento dos laços pessoais.

domingo, 3 de abril de 2011

Bolsonaros e Felicianos: O espelho que não queremos ver.


Bolsonaros e Felicianos: O espelho que não queremos ver.
Por Antony Diniz

Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água...
Gota D` água – Chico Buarque.

 
Tempos difíceis esses em que vivemos.
Há algum tempo, em um aula de sociologia, discutíamos um texto do Pierre Bourdieu: As artimanhas da razão imperialista. Nesse texto o sociólogo francês reclama sobre a tendência de se usar moldes de pesquisa e tendências de analise cegamente, a partir de uma sugestão de que sofremos de um imperialismo intelectual que nos vicia e coloca em cheque nossa própria atitude na pesquisa. Em certo parágrafo mais nebuloso, ele sugere que o racismo não existe no Brasil nos moldes americanos e, portanto, seria infrutífero usar o modelo de análise deles para o nosso caso. Lembro-me bem que um dos alunos, decerto por não ter compreendido todo o argumento, chegou à conclusão de que o racismo no Brasil não existe.
Bem, muitos concordariam com isso. Não superamos o mito da democracia racial no Brasil, e números recentes podem sugerir que o que vemos é uma melhoria nesse quesito. Como todos os outros preconceitos na contemporaneidade, o que acontece diante de nossos olhos não é uma melhoria, mas antes uma mudança de eixo. Não encontramos mais o preconceito nos “lugares” onde costumávamos procurar por ele, e descuidadamente concluímos que ele não existe. Eu defendo que o que assistimos é o deslocamento do preconceito. Uma absorção de certos valores que pregamos, mas não professamos. Uma adaptação do capitalismo á mais uma reviravolta, e o triste metamorfosear de discursos poderosos (porque revolucionários) em propaganda comercial. Desde que se descobriu que negros, gays, mulheres e outras minorias, representavam um comercio ainda á ser explorado pelo marketing, o capitalismo criou meios de inseri-los socialmente.
Desde então o cinismo virou a tônica. Fingimos uma compreensão da diferença que não possuímos, e uma tolerância que jamais tivemos começa a ser alardeada em termos discursivos (ainda que o controle e a opressão se faça sentir em toda a parte).
Recentemente, a mídia alardeou denuncias sobre dois deputados, em tom de “curiosa bizarrice infantil”. Declarações colando a homossexualidade á ameaças á família e mesmo a pátria, atrelando as mazelas do continente africano á uma maldição bíblica (como se o capitalismo e o imperialismo não fossem os chicotes que tem açoitado á África á anos e anos, relegando áqueles povos ao abandono e á miséria), alardeando um moralismo chulo e um conservadorismo de péssimo nível (na esperança de conseguir votos dos setores reacionários desse país, em geral ligados á segmentos religiosos de direita) são a coroação de algo muito maior. Na Microfísica do Poder, Foucault sugere que a corrupção e degenerescência política dos lideres é um reflexo de formas mais miúdas de degenerescência política, ou seja, a corrupção política do líder reflete a concepção política do povo. Bolsonaros e Felicianos nada mais são do que o reflexo de uma geração que tem tanta tolerância com a diferença quando qualquer outra que já tenha caminhado sobre esse chão. Até mesmo a forma com que tratamos desse caso é sintomática. Toda a reação em torno disso também. Uma espécie de circo onde ninguém - exceto á grande multidão de espoliados e apedrejados que tem tudo a perder com essa discriminação que invade a Constituição Brasileira (uma anomalia que se pretende humanista e defensora de direitos e isonomia, mas que já caduca e sempre foi omissa) - realmente se importa com os efeitos dessas declarações. O racismo já foi formalmente criminalizado, a violência contra a mulher também, mas a luta contra a homofobia ainda carece de justificação para ser criminalizada. Quais justificativas serão necessárias? Alem do número (impreciso, mas nem por isso menos alarmante) de assassinatos e casos de violência diariamente divulgados pela mídia (que não nutre nenhuma paixão pela causa e, portanto, não pode ser acusada de parcial) contra gays, travestis, lésbicas e transgêneros? Esses deputados serão autuados por racismo, mas e quanto ás declarações homofóbicas? Essas passarão em branco. Enquanto não for mais rentável o silencio, todos agirão como se a homofobia desses deputados, e as demais formas de preconceito, fossem “pisadas na bola”, ou engraçadas pautas de programas humorísticos pseudo-intelectuais (será que homofobia é mesmo uma piada?), ou meras curiosidades de pé de página nos sites de noticias da internet. Essas declarações são atos de violência. É como se todos os dias novos ataques pipocassem, e ninguém toma medidas efetivas á esse respeito. Endossamos o ódio e o preconceito com nossa inércia.
Um amigo meu, mandou e-mails para os conselhos de ética do senado e da câmara, e convidou á todos que fizessem o mesmo. É pouco, mas é uma medida. O pior é se indignar e não fazer nada. É preciso conservar o espírito dessa indignação e refinar os modos de materializa-la. É preciso se conscientizar que todo contato é um contato pedagógico e que todos nós estamos implicados nisso, irremediavelmente.

Video sobre liberdade de imprensa no Brasil

Esse video é do Coletivo INTERVOZES que trabalha sobre a liberdade de imprensa e de expressão no Brasil. É bastante interessante, acompanhem:

Por Antony Diniz